quarta-feira, março 23, 2011

FEELING PAIN - Multisport Brasil 2011

No dia 19/03/11 aconteceu em Florianópolis/SC a 5º edição do Multisport Brasil. Uma prova marcada pelos cenários paradisíacos da ilha da magia. A equipe Costa Verde Multisport encarou essa experiência na categoria individual open com os atletas João Guilherme(eu), Felipe e Everton. O apoio foi formado por familiares e amigos (Gerson, Rosane, Jamila, Camila, André e Jonathan). Estávamos mais preocupados em finalizar esta aventura do que conseguir boa colocação, estimamos nossos tempos de chegada em torno de 11hrs.



Todas as previsões indicavam que o sábado seria de muita chuva e vento, já sabíamos que seria difícil com terreno seco, mas com chuva e vento seria pior ainda. Para nossa surpresa, ao acordarmos as 4:45hrs de sábado, nem sinal de chuva e aos poucos as nuvens foram sumindo e o sol começava a dar as caras. Excelente, partimos para a praia da armação (local da largada), onde várias equipes já acertavam os últimos detalhes  para o longo dia que teriam pela frente. As 6:30 foi dada a largada da prova, e logo nos primeiros metros já tivemos que transpor um riacho, dali pra frente começava o perrengue. O primeiro trecho já era duro, 9km de corrida em areia fofa e trilhas técnicas, com grande desnível. A minha intenção era largar tranqüilo para não gastar muita energia já nos primeiros quilômetros, mas na “pilha”da largada já entramos na trilha em ritmo forte. Consegui acompanhar os primeiros colocados, e estava me sentindo muito bem, descendo muito forte, pulando as pedras de forma meio suicida, ainda bem que nenhum acidente aconteceu. Minha previsão era terminar esse trecho em 1:40hrs e cheguei na AT1(Pântano do Sul) com 1:13hrs (27min abaixo).

Rápida transição e parti para 28km de Mtb, não estava me sentindo muito bem neste trecho, estava meio travado e logo no inicio nas ingrimes ladeiras não consegui subir pedalando e tive que empurrar a bike por alguns minutos. Na descida novamente fui um pouco kamikaze, ela era bastante ingrime e com cotovelos fechados, mas valeu a pena, passei vários atletas. No decorrer do trecho pedalei uns 15km no vácuo de um atleta do revezamento, e consegui dar uma descansada. Hahaha. Finalizei o trecho com 1:26hrs, 4min abaixo do tempo previsto. Após a corrida, meu tio, Gerson, me disse que a roda dianteira estava totalmente travada, encostando no freio. Não sei se esse foi o motivo das pernas pesadas, mas com certeza devo ter gasto energia em vão.



Na AT2 (Novo Campeche), tomei uma água de coco, comi uma banana e parti para 8.5km de corrida nas dunas. Neste trecho comecei a sentir câimbras nas coxas mas continuei correndo, só que num ritmo mais lento. Alguns atletas me passaram, mas eu estava realmente preocupado em poupar minhas pernas para as próximas etapas, já que não estava nem na metade da prova. A única coisa favorável nesse trecho eram os banhados entre as dunas, que refrescavam o corpo que já estava sendo castigado pelo forte sol.


Cheguei na AT3 (lagoa da conceição) em 1:14, 6 minutos abaixo do tempo previsto. Agora começava a primeira perna de canoagem, 8km até o terminal lacustre. Com certeza a canoagem era o meu maior medo, já que não sei remar direito, e o único treino que eu faço de canoagem são nas corridas de aventura. Comi algumas bisnaguinhas, tomei a melhor coca-cola da vida (geladíssima) e comecei a remar. Neste trecho o vento soprava a favor e consegui manter um bom ritmo durante toda a lagoa, o único problema é que os atletas com caiaques próprios (de competição) passavam por mim com uma velocidade muito maior, apesar do máximo de força que eu fazia, meu “pobre”caiaque continuava indo na mesma. Era desanimador. Trecho finalizado em 1:24hrs, novamente 6minutos abaixo do previsto.


Nova transição, novamente Mtb, agora pela frente eu tinha 14,5km de tilhas e estradões. Não sei se foi por causa da roda, que agora não estava mais travada, mas esse foi a minha melhor perna da prova, passei umas 8 pessoas e estava me sentindo muito bem, forcei bastante o ritmo. Terminei com 51minutos, 9 minutos abaixo do tempo previsto.

Na AT6 comi novamente e parti para mais 7km de corrida (Rio vermelho – Ratones). Logo no início da trilha senti câimbras novamente, qualquer raiz, degrau, pedra que eu passava meus músculos travavam. As várias horas de prova já começavam a fazer efeito no meu corpo, e nesse momento as coisas já não estavam tão divertidas hahaha. Fui com outro atleta em ritmo bem lento, conversando até o momento em que a trilha ficou plana novamente e partimos em um trote leve até o final do trecho. Cheguei no AT7 com 1:14hrs, 4 minutos acima do tempo previsto.




Estava sentado me hidratando na AT, e o cansaço quase me venceu, estava com bastante vontade de entrar no carro, trocar de roupa e relaxar. Mas não iria jogar tudo que eu já tinha feito até ali por água abaixo, não iria decepcionar meu apoio, minha equipe, não podia desistir porque não ia me perdoar na segunda feira, quando chegasse no trabalho e o pessoal perguntasse: “e ai, como foi? Desistiu? Porque?....Nessas horas uma frase pode ser motivação para você continuar mais um pouco. Justamente, nesse momento lembrei de um frase do Lance Armstrong “A dor é temporária, desistir é para sempre”, pronto, já serviu de combustível e fui encarar o pior trecho da prova (para mim), 9,5km remando pelo Rio Ratones. Logo no inicio fiquei ainda mais FELIZZZ, notei que teria que remar contra a correnteza. As coisas estavam cada vez piores, olhava para um lado: mangue, olhava para o outro lado: mangue, olhava para frente: ninguém. Respirava, remava, e logo passava um caiaque de competição por mim, a todo vapor, e eu ali na mesma. Minhas mãos não agüentavam mais segurar o remo, minhas costas não suportavam mais fazer o mesmo movimento, ai começaram a vir os pensamentos ruins: porque eu faço isso? Porque não sou uma pessoa normal? Poderia estar sentado numa cadeira de praia, tomando uma cerveja, qualquer coisa menos estar aqui nesse momento. Pensava que nada mais poderia ser pior que aquilo, e.....adivinhem??? as coisas pioraram, observei uma ponte uns 200m a frente, com vários expectadores, pensei que eram fotógrafos, algo assim, mas na verdade eram as pessoas querendo rir da minha desgraça hahaha. Na ponte o rio afunilava, formava um forte correnteza que teríamos que transpor. Não tinha mais forças para nada, e na minha primeira tentativa não consegui passar pela ponte. Parei, descansei um pouco, outro competidor chegou e conseguiu passar. (Droga, vou ter que tentar novamente, pensei). Tentei e não consegui, mas antes de ser levado para trás pela correnteza, me agarrei na ponte e na vegetação e fui me arrastando e finalmente consegui vencer esse maldito obstáculo. O trecho não terminava nunca, comecei a remar e contar as remadas em voz alta, para me distrair e ver se o tempo passava mais rápido, acho que enlouqueci por alguns momentos!!!
Após 1:54hrs chequei na ultima AT, 6min abaixo do tempo previsto.


            Este ultimo trecho era o mais fácil de toda a prova, 4km de corrida. Mas depois de mais de 9hrs de prova, nada mais era fácil!!! No final do remo percebi 2 outros caiaques na minha cola, e utilizei as ultimas energias que ainda tinha para dar o gás final nas tilhas e não perder mais nenhuma posição. No topo da trilha, avistei o pórtico de chegada, vários sentimentos me dominaram, as dores sumiram, todo sofrimento desapareceu, só me vieram as lembranças dos momentos bons durante a prova, do meu apoio me esperando, da comemoração, dos treinos.
            Finalizei este ultimo trecho em 30min, exatamente como o previsto e finalizei a prova com 9:49hrs, 1:11hrs abaixo do previsto. Terminei a corrida na 9º colocação na categoria individual open.

            Felipe terminou com o tempo de 10:15hrs, na 12º colocação na categoria. Everton, infelizmente desistiu por problemas musculares.

            Fiquei muito contente de ter conseguido chegar ao final dessa dura prova, e ainda mais feliz de ter conseguido fazer um tempo bom, fiquei surpreso comigo mesmo.
            A sensação de você concluir uma prova deste nível não tem preço, muitas pessoas me perguntam: - O que vocês ganham no final? Não ganham nada? Vocês são loucos!! Qual a graça disso? Para mim ai é que ta a graça, superação de limites, você prova para você mesmo que é capaz de conquistar feitos incríveis, e isso te torna cada vez mais uma pessoa melhor, não só no meio esportivo, mas também no dia a dia, na convivência com as outras pessoas, com a família, no trabalho, etc.

            Ao final de cada prova, por menor que seja, tenho cada vez mais vontade de treinar, de superar cada vez mais o meus próprios limites. Quem diria, ano passado as provas de 4hrs eram consideradas longas para mim, agora estou terminando provas de 10hrs e querendo mais. Evolução!! A luta continua.
            O nosso apoio nessa corrida foi mais do que 100%, me hidratei muito bem, me alimentei muito bem, e os meus equipamentos estavam sempre prontos em todas as AT`s. Foi impecável. A prova também foi excelente, apesar de ter ouvido reclamações de outros atletas, para mim estava muito bem sinalizada.
            E continuamos no espírito – FEELING PAIN


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